sexta-feira, 15 de maio de 2015

A VERDADE DOS MORTOS



No 4º episódio do "Decálogo", de K. Kieslowski, o pai, ao despedir-se para mais uma viagem, deixa-lhe demasiado à vista, uma carta para ser lida na sua morte. Ana não resiste e descobre dentro do primeiro envelope um outro da mãe falecida, para ser por si lida e que tinha sido sonegada pelo pai.

A defunta revela-lhe que Michael não é o seu verdadeiro pai.
Os interditos afastados com essa revelação, o secreto intuito de Michael, que esperou pela idade adulta de Ana, tanto quanto a atracção nesta do que Freud chamou de complexo de Antígona, pareciam ter o caminho livre.

Não dependesse a ilusão desse amor precisamente dos interditos e da impossibilidade de ele se concretizar.

Ambos, de comum acordo, decidem então fechar a Caixa de Pandora e queimando a sua carta, fazem de conta que a morta não tinha qualquer revelação a fazer-lhes.

Que verdade superior à verdade de facto é esta que nos faz aderir tão completamente à solução do filme?

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