segunda-feira, 25 de maio de 2015

O DOGMA É A PRIMEIRA PEDRA

Hyppolite Taine


" Não  havia  de  todo  entre  nós",  diz  uma  testemunha,  "trinta  deputados  que pensassem  diferentemente  de  Reynal,  mas  em  presença  uns  dos  outros,  a  honra da  Revolução,  a  perspectiva  das  suas  vantagens,  constituíam  um  dogma  no  qual se impunha acreditar."

(Hyppolite  Taine, citado por Fr. Reynaud Silly)

Canetti interessou-se por descobrir a força que dirige o indivíduo que faz parte de uma multidão em movimento. A sua experiência pessoal dessa perda do sujeito foi de tal modo perturbadora que lhe dedicou a obra da sua vida, 'Masse et puissance'.

A imitação é sem dúvida um arcaico e poderoso instinto que nos exonera da carga de pensar.

Mas qualquer um pode experimentar, fora do choque da multidão, algo de parecido com esse poder insidioso numa qualquer reunião política. Daquilo a que Augustin Cochin, historiador da Revolução Francesa, já chamava de 'máquina':

"Ele  entendia  por isso  "uma  forma  de  socialização  cujo  princípio  consiste  em  que  os  seus  membros devem,  para  desempenharem  nela  o  seu  papel,  despojar-se  de  qualquer particularidade  concreta  e  da  sua  existência  social  concreta"  É  o  contrário  dos corpos  sociais  do  Ancien  Régime  procedentes  de  uma  comunidade  real  de interesses profissionais ou sociais."(ibidem)

Assim que certas ideias simples, mas  eficazes, imponham uma espécie de "dogma', os participantes numa dessas reuniões, 'em presença uns dos outros', deixarão de ouvir a voz interior que, desde Sócrates, associamos ao juízo livre e pessoal. É uma questão de 'temperatura' política. Todos nós, se não tivermos recalcado esse sentimento, deveríamos estar prontos a reconhecer que, em tempos loucos, nos comportamos como loucos.

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