"A principal força desestabilizadora tem a ver com o facto de que a taxa de retorno privada sobre o capital, r, pode ser significativamente mais alta por longos períodos de tempo do que a taxa de crescimento do rendimento e da produção, g. A desigualdade r > g implica que a riqueza acumulada no passado cresce mais rapidamente do que a produção e os salários. Esta desigualdade exprime uma contradição lógica fundamental. O empresário inevitavelmente tende a tornar-se um rentista, cada vez mais dominador sobre aqueles que nada possuem para além do seu trabalho. Uma vez constituído, o capital reproduz-se mais depressa do que aumenta a produção. O passado devora o futuro."
"Le capital au XXIe siècle" (Thomas Piketty)
A economia política é uma espécie de centauro, em que o cérebro do economista parece implantado num grande corpo rebelde à estatística e à matemática. O centauro só existe no mito, e é como mito que deve ser considerado na chamada 'ciência' económica.
O mérito de Piketty é aparentemente o de uma abordagem empírica, sem pretender fazer uma crítica do capitalismo. Ele podia ser até um grande especulador, 'à la Soros', que, em última análise, não pretendesse mais do que estudar as hipóteses de futuro do seu modelo de negócio. Também as conclusões partem dessa perspectiva, do interesse de manter o sistema, através da fórmula de Tomasi di Lampedusa, é preciso mudar para tudo continuar igual, que mais não é do que a tradução da lei da entropia.
Não sendo um 'perigoso esquerdista' (mas que perigo é esse quando existe um inimigo que não quer saber da Revolução e da mudança de sistema, mas de uma conversão massiva à sua psicose religiosa?), Piketty entrou, tal como outro Cavalo de Tróia, em todas as cidadelas da ideologia económica. Chamam-lhe o economista da década, é estudado nas universidades mais elitistas, que emprestam a boa consciência da razão e da justiça a esse Olimpo que alegadamente puxa os fios de milhões de títeres (esta, claro, sendo a visão infantil).
O êxito do economista francês representa também o facto de estarmos ainda, 'da cabeça aos pés, na era do 'TINA' (There is no alternative).
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