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"Se bem que todos os acontecimentos que tocam os homens nasçam da imaginação, só os problemas racionais se revelam submetidos a uma organização suprapessoal; para tudo o resto nada ainda foi feito que mereça o nome de esforço comum, ou que ao menos revelasse o reconhecimento da sua urgente necessidade."
"L'Homme Sans Qualités" (Robert Musil)
A 'provocação' de Musil está neste exclusivo da imaginação, implicando que o racional não nos 'toca' verdadeiramente. Ao mesmo tempo, dizem-nos que somos 'animais racionais'...
Além disso, a frase é chocante quando pensamos, por exemplo, numa catástrofe humanitária, em que a nossa primeira reacção, se bem que possa estar longe de racional, ao ser associada à imaginação, parece desvalorizar a realidade dos factos.
Mas talvez o problema surja de uma ilusão que nos é muito cara, ilusão a que nas sociedades mais evoluídas se dá o nome de individualismo. À medida que o mundo se torna cada vez mais o habitat artificial feito à nossa imagem e semelhança, mais sofremos da ilusão de que nos criamos a nós próprios, graças ao poder demiúrgico da liberdade individual e do desenvolvimento tecnológico.
O que sugere a ideia musiliana é que essa 'criação' surge apesar de nós, movida por uma força tão impessoal ou tão indiferente ao sentimento de humanidade, como se, de facto, fôssemos instrumentalizados pela razão, em vez de se passar o contrário.
Um vislumbre dessa 'lógica' poderia ser, por exemplo, o poder da ciência e da tecnologia. Não temos a menor ideia do futuro que nos prepara essa racionalidade independente e agimos como se tivesse que ser assim para o bem de toda a humanidade.
A evolução dessa força é imanente, nasce da sua própria problemática, e a sua direcção parece não nos dizer respeito.
A evolução dessa força é imanente, nasce da sua própria problemática, e a sua direcção parece não nos dizer respeito.
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