"Não, nada disso é a história da Revolução; é a história dos partidos que a dilaceraram, e que queriam destruí-la, ou confiscá-la em seu proveito."
"Histoire d'un paysan" (Erckmann-Chatrian)
Longe de se desiludirem com a violência do 'parto' revolucionário, como diria Marx, esta copiosa parceria de alsacianos, Émile Erckmann e Alexandre Chatrian, em 1867, iniciou a publicação de um folhetim intitulado "Histoire d'un paysan'. Pretende ser a visão do bom senso popular, acima dos partidos.
Começam por enumerar os vícios do antigo regime: "(...) com as suas 'lettres de cachet' (cartas régias com ordem de prisão), o seu governo de livre arbítrio, o seu dízimo, o trabalho forçado (corvées), os seus jurados (jurandes), as suas barreiras, as suas alfândegas interiores, os seus capuchinhos imundos mendigando de porta em porta, os seus privilégios abomináveis, a sua nobreza e o seu clero, que possuíam, só eles, dois terços do território da França!" Enfim, um quadro reivindicativo digno de dois 'burgueses progressistas', ainda de acordo com o profeta do 'Das Kapital'.
Para acabarem, como se percebe pela citação, por atribuir a autofagia do Terror à luta entre os partidos. Tal como, hoje, os nostálgicos do regime soviético, insistem em distinguir a Revolução russa do Terror estalinista (quando chegam a reconhecer a sua realidade histórica e simplesmente não o justificam pela emergência revolucionária), sem se perguntarem se a violência do nascimento da 'sociedade nova', se podia evaporar sem deixar rasto, sem modificar a natureza do que foi mais 'moldado' a um leito de Procusta artificial do que verdadeiramente criado.
Os nossos alsacianos dedicam-se, nesta obra, a enaltecer o mito de uma 'tabula rasa' sem sangue, culpando uma instituição tão característica da democracia moderna como são os partidos, pelo pavoroso desvio do ideal.
Um pormenor curioso no requisitório dos autores contra o 'Ancien Régime' é o seu ódio à imundice dos frades pedintes, que são tratados quase ao nível dos impostos e das corveias. É, na realidade, uma atitude contra o Estado da classe vencida, comparado com a vantagem das novas liberdades para a burgesia triunfante. E não há forma de negar o progresso quando se fazem comparações destas.
Mas o barão de Turelure, na peça de Paul Claudel ('L'Otage') não deixa de ser o verdadeiro rosto do novo regime.
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