"(...) um cão de raça, se procura o seu lugar debaixo da mesa sem se deixar desviar pelos pontapés, não é de modo algum por baixeza de cão, mas por dedicação e fidelidade; e na vida, mesmo aqueles que calculam friamente não têm metade do sucesso que obtêm os espíritos bem doseados, capazes de experimentar, pelos seres e as relações que lhes são proveitosos, sentimentos verdadeiramente profundos."
"L'Homme sans Qualités" (Robert Musil)
Num dos exemplos preferidos de Alain para mostrar como muitas vezes as nossas escolhas resultam do mau discernimento sobre as alternativas, ele pergunta por que, diante de um cântaro com uma asa partida, deveríamos pegar nele precisamente por esse lado?
Musil convida-nos a não deduzir de alguma inferioridade de raça aquele comportamento canídeo (que se sujeita aos pontapés por causa do osso). Prefere ver nisso um índice do afecto e da fidelidade pelo dono, quer dizer, o animal instintivamente encontrou, sem pensar nisso, o comportamento que melhor lhe garante a reprocidade humana.
É por isso que o 'natural' tem tanto sucesso nas próprias relações humanas. Nenhuma pessoa pode ser considerada estúpida se encontrou a melhor maneira de chegar ao nosso coração e de servir por acréscimo o seu próprio interesse.
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