domingo, 5 de abril de 2015

O SOL E A LUA

Epicuro

 

"(...) o Sol, a Lua e as estrelas (por muitos seríissimos motivos) não podem ser nem maiores nem mais pequenos do que parecem aos nossos sentidos. Razão pela qual Epicuro julgava que o Sol teria um diâmetro de uns trinta centímetros."

(Gassendi no sec. XVII ainda a discute; Umberto Eco)


Podia-se, nesse tempo, e continua a poder-se viver no meio de contradicões lógicas, só porque não nos interessam realmente. Já na época de Epicuro se sabia que as coisas não são, efectivamente, como nos aparecem no horizonte. Ninguém estava à espera que o castelo ao longe mantivesse a mesma aparência se nos aproximássemos. Como diz Eco, o tamanho do sol e da lua era indiferente para a questão da salvação da alma. Esse tema de que dependiam multidões inteiras era mais do domínio da imaginação. E a imaginação gosta de histórias e de fábulas.

O século XX é o melhor repositório dos movimentos de massa que podem ser desencadeados pela manipulação da imaginação. Hitler chegou a mostrar os 'cordelinhos', que estão muito longe de se cingirem às palavras. Os sons guturais da sua voz agarraram a maioria da população alemã pelo baixo ventre.

Nos nossos dias, é impossível encontrar uma lógica comum aos fenómenos da economia e da tecnologia (para só referir estes). São tantas as vozes contraditórias entre si, que o melhor, para quem não quer 'mergulhar de cabeça' numa dessas escolas, é esperar que tudo, no fim faça sentido, como nos parece que não pode deixar de suceder. Claro que esse 'sentido', ou essa lógica não têm nada a ver com as previsões da charlatanice que é consubstancial à chamada ciência económica. Marx, que foi grande, incorreu na mesma fatalidade.

Para voltar ao 'erro' de Epicuro, é possível que alguns consigam pensar fora do mundo de fábula da economia e encontrem até uma lógica que mais ninguém vê. Eu já me muni duma lanterna.

 

 

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