"Retratos septuagenários do século de Luís XV, estas mulheres são quase sempre acariciantes, como se amassem ainda, menos piedosas do que devotas, e menos devotas do que parecem; exalando sempre o pó à marechala, contando bem, conversando melhor, e rindo mais de uma recordação do que de um gracejo. A actualidade desagrada-lhes."
"La femme de trente ans" (Balzac)
O retrato é o da condessa Listomère-Landon. Se nos conseguirmos desprender do fascínio das páginas tão celebradas de "La Comédie Humaine" (distanciação, chamava-lhe Brecht), veremos que o século de Luís XV, ou o século do próprio Balzac nos são congeniais. A psicologia parece não ter avançado grande coisa em relação aos traços balzaquianos. É verdade que não era um homem de ciência, mas os seus retratos vão mais longe do que os tratados que conhecemos.
Alguém que tenha deixado a juventude e o protagonismo social para trás, só pode viver a actualidade como um corpo enterrado na areia e só com a cabeça de fora.
Todas as nossas ideias nascem da nossa forma, primeiro quando ela é maravilhosamente plástica, como na infância e na adolescência. Depois, sempre que a sua 'armadura' é colhida de surpresa e abre as portas ao Cavalo de Tróia da experiência.
É esse tempo de invenção e de força criadora que nos agrada recordar. O único que tem verdadeira graça aos nossos olhos quando o corpo se retira. As mulheres do século de Luís XV somos todos nós, mesmo sem cosmética marechaliana.
O que não compreendemos ainda bem, talvez, é como tantos 'marechais' e 'marechalas' parecem tirar tão bom partido do seu desagrado com a actualidade, o qual é, naturalmente, ambíguo...
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