"Para Portugal tinha objectivos simples: "aquilo que me proponho é fazer viver Portugal habitualmente". Queria instituir uma "ditadura da inteligência", "sem entusiasmo nem heroísmo". A sua preocupação era "fazer baixar a febre política" no país e "reencontrar o equilíbrio, o ritmo habitual". Tencionava "proceder como a Natureza", lentamente. Acima de tudo, não acreditava na ideia do "Estado omnipotente."
"Salazar" (Filipe Ribeiro de Meneses)
Esperávamos compreender o homem pelo seu contexto, mas no caso de Salazar temos, primeiro, de o situar no século XIX, coisa que tinha em comum com os seus mais consequentes opositores.
No seu tempo era possível para muita gente ignorar que tínhamos entrado num período de aceleração histórica. Portugal, estava apenas temporariamente encalhado. Estava pendurado sobre o vórtice do acelerador, mas só agora o compreendemos sem ambiguidade.
O modelo já não podia ser o da Natureza, mas o do completo artifício e da fuga do controlo das mãos do 'aprendiz de feiticeiro'. A 'febre política' propagou-se a toda a sociedade, deixando de ser especificamente política e, às vezes, dir-se-ia mesmo para ser anti-política, porque toda a palavra tende a tornar-se 'frívola' como a 'publicidade'.
Salazar, genialmente dotado para o passo lento dos herbívoros, foi o pastor providencial do rebanho luso e fê-lo atravessar, como numa nuvem mística, os tempos perigosos da intolerância e da guerra. Através da nuvem, ele nunca perdeu o contacto com o que ficava para trás, cada vez mais longe.
O 'viver habitualmente' tem, dada a sua personalidade, uma conotação monástica que agrada ao Portugal dos pobrezinhos. Não consta que Maquiavel fosse leitura de cabeceira. Mas a transformação de um homem tão inteiro e com ideias tão definidas (sei para onde vou) no célebre dinossauro é o melhor exemplo da 'omnipotência do Estado' (ou do poder absoluto).
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