Roger Silverstone |
"É precisamente por os 'medias' operarem um desenraizamento da vida quotidiana, uma extirpação da experiência, que a transcendência reivindicada como ainda possível na sociedade contemporânea perde a autenticidade. Por isso, a nossa aptidão para nos interessarmos por universos e indivíduos para além dos que nos estão próximos é - com algumas raras mas inevitáveis excepções - totalmente canalizada e limitada pelos quadros específicos dos 'media'. Estes universos e indivíduos não sobrevivem para lá da difusão das suas imagens. A difusão faz com que sobrevivam apenas através desses quadros."
"A Mediatização da Catástrofe" (Roger Silverstone)
Em relação à transcendência, estaremos mais limitados agora pela difusão dos mídia, ou ganhámos consciência de que não podemos 'saltar a própria sombra' (Steiner)?
Entre nós e o Outro sempre se interpõe o cérebro localizado e 'em rede', ou alguma das suas extensões ou próteses. Fora do seu 'quadro', ou da sua 'caixa", só existe a esperança de que a intuição, a 'visão' ou a revelação não sejam elas próprias 'determinadas' ou sobre-determinadas como diziam os marxistas pela última instância (no caso, o económico). Mas podemos estar certos de que todos os nossos micro ou nanoscópios e todos os nossos Hubbles ou super-telescópios permanecerão assestados para encontrar uma lei no último vestígio metafísico.
Bertrand Russell, o eminente matemático, dizia que a Metafísica foi sempre uma tentativa de compreender o mundo como um todo e que dois impulsos eram fundamentais para isso: o impulso para a ciência e o impulso para...o misticismo.
A lógica não nos permite compreender a transcendência. Mas o 'misticismo' depende da fé que nele depositemos. No melhor dos casos, parece que devia permitir a esperança de compreender ou vir a compreender. No pior, seria só mais uma ilusão a juntar às outras.
Dá a ideia que estamos muito longe dos mídia e da sombra que nos segue por toda a parte, mesmo quando lhe pedimos o distanciamento 'científico'.
Contudo, lancemos um olhar sobre o fenómeno do fanatismo no mundo de hoje. Haverá nele alguma coisa do misticismo de que fala Russell? Ou é a lógica mais primária de um mundo reduzido como uma cabeça jívara?
Esta redução é bem mais mediática do que parece. Porque vive dos mídia, mas fechando-se a toda a 'comunicação'. Só pretende implantar a imagem e reservar-se uma parte crescente do imaginário. É uma mediatização niilista.
A redução fanática traz ao mundo dos espectadores à distância o 'frisson' de uma 'solução final'.
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