sábado, 18 de abril de 2015

DESCONSIDERAR



No sexto episódio do "Decálogo", de K. Kieslowski, Tomek é um "peeping Tom" seráfico, sem a perversidade do herói do filme de Michael Power (1960).

Se aponta o seu telescópio para a vizinha de costumes livres, se lhe intercepta a correspondência (ele trabalha no balcão dos Correios), se toma a sua conta a distribuição do leite só para a ver de perto, é porque a ama. Afinal só tem dezanove anos.

Mas o seu ídolo não acredita no amor e troça da sua paixão, quando um encontro em casa dela se propicia. Tomek não resiste à decepção e corta os pulsos.

A paixão não precisa da realidade para existir. E é um crime responder à absoluta sinceridade com o cinismo.

A mulher, depois de esperar o seu regresso do hospital, procura-o no emprego para lhe dizer que ele é que tinha razão. Mas ele já não precisa de a espiar.

Pobre Tomek se não descobrir um astro mais digno!

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