quinta-feira, 23 de abril de 2015

O ESPÍRITO MÓRBIDO

 

"Ele (o homem comum) sempre se preocupou mais com a verdade do que com a consistência. Se vê duas verdades que parecem contradizer-se, ele acolhe as duas e a contradição entre elas."

"Orthodoxy" (G.K.Chesterton)

O homem comum não deveria nunca, então, ceder ao fanatismo. Infelizmente, não é isso o que acontece. Este optimismo de Chesterton parece descender em linha directa do 'bom selvagem' de Rousseau.

Contrariamente a este espírito são e equilibrado atribuído ao 'ordinary man', surge-nos o 'maníaco' que só vê o 'preto e o branco' e é incapaz de viver na contradição aparente, o que o leva a uma vida doutrinada dependente de um qualquer sistema ou ideologia.

Li, não sei onde, que este tipo de contradição deveria ser vivido como um impasse. Impasse reconhecido, embora, que nos impediria um encontro prematuro e ilusório com a verdade. E isto é o espírito socrático, talvez, o mais eminente de toda a filosofia ocidental.

Não é verdade que o 'sátiro' procura levar o interlocutor ao impasse? Para reconhecer, como ele, que as suas opiniões são um pretenso saber.

O espírito mórbido de que falou Chesterton foi, sem dúvida, o gerador das guerras do século XX. Nenhum dos algozes e muito poucas das suas vítimas se lembraram de consultar o seu 'demónio'. Apenas se aconselharam com a razão instrumental, eficaz produtora de ideologia e de armas de guerra.

 

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