quarta-feira, 22 de abril de 2015

O RAPTO DE EUROPA


"L'enlèvement d'Europe" (Henri Matisse)


"O Parlamento da Grã-Bretanha pronunciou-se pelo direito de taxar as Colónias em qualquer caso que fosse; e foi com esta questão  precisamente que os Ingleses puseram em movimento a Revolução. O montante da taxa era uma ninharia, mas a exigência era inconsistente com a liberdade, e aos olhos dos colonos foi o suficiente. Foi mais contra o relato de um acto do Parlamento, do que contra qualquer sofrimento que a sua aplicação comportasse, que eles pegaram em armas. Entraram em guerra contra um preâmbulo. Lutaram durante sete anos contra uma declaração."

"Lectures on the French Revolution" (Lord Acton)

Podia dizer-se que os políticos da colónia americana invocaram os princípios da liberdade para defender interesses naturais e legítimos, mas que pouco tinham a ver com esses princípios. É assim que as coisas se passam. Foi o caso da virtude romana antiga que inspirou os jacobinos, mas não o povo da Revolução Francesa, ou o dos soviéticos que nunca leram Marx.

Como interpretar isto? A ideologia das elites acaba por chegar às 'massas' sob uma forma vulgarizada que é reapropriada pelos seus destinatários e aplicada  à vida prática e aos interesses reais do grande número, ou trata-se de um 'contágio', da influência directa do entusiasmo e da capacidade de afirmação dos 'poucos' que se faz sentir na maioria social?

Inclino-me para esta interpretação. É por esse motivo que elites sem verdadeira  cultura e focadas nos seus próprios interesses geram multidões apáticas (mas que procuram seguir, quando podem, o exemplo de cima), desmotivadas, apolíticas.

Será essa uma explicação possível para o que se passa com o projecto europeu?

O 'rapto de Europa' repete-se. Mas sem nenhum deus disfarçado.

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