terça-feira, 7 de abril de 2015

PRÍAMO

http://duguesclin.free.fr/Mythologie_grecque/enluminure/Troie_cheval.jpg

"Ninguém viu entrar o grande Príamo."

"A Ilíada" (Homero, traduzido por Simone Weil)


O rei da cidade conquistada vem, junto de Aquiles, como um suplicante, resgatar o corpo do filho, Heitor. Nada de 'grande' transparece na sua figura que mais parece a de um velho pedinte.

Que melhor descrição da passagem do poder supremo ao da humanidade mais nua do que a invisibilidade? Ninguém viu entrar o antigo rei de Tróia.

O mais importante é precisamente o que não se vê. Proust dizia que a função do artista era dar-nos novos óculos para ver. A psicologia proustiana é uma maravilhosa 'prótese' que está mundos à frente da ciência oficial. Mas o mundo que nos é dado ver é o nosso mundo, apenas com outras cores ou outras formas. Esse mundo é o das pessoas, e é o mundo pessoal. Por isso, talvez não seja a realidade. Simone Weil, que encontra na epopeia grega a perfeita expressão do despojamento, vê também aí o que está para além da pessoa.

Príamo destituído já nada tem de 'supérfluo' e tudo o que é pessoal nele como que desapareceu. Sem dúvida, para dar lugar ao símbolo, mas principalmente para deixar aparecer o que Simone considerava o sagrado.

 

 

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