segunda-feira, 6 de abril de 2015

ARJUNA

http://www.bhagavad-gita.us/wp-content/uploads/2012/09/gita-110.jpg

 

"11. Porque, conforme os homens se inclinam perante mim, assim eu os honro. Todos os homens seguem a minha via, filho de Prithâ;

12. Mas aqueles que desejam o preço das suas obras sacrificam cá em baixo às divindades; e rapidamente, neste mundo mortal, obtêm o preço das suas obras.

13. Fui eu quem criou as quatro castas e reparti entre elas as qualidades e as funções. Sabe que elas são obra minha, vêm de mim, que não tenho função particular e que elas não mudam.

14. As obras não me conspurcam, porque não têm para mim qualquer fruto; e aqueles que me conhecem tal não ficam presos no laço das suas obras."

"Bhagavad-Gîtâ"


Na citação, Krishna incita o príncipe Arjuna a combater outros nobres da sua família, e a vencer a falta de 'motivação' e a repugnância em lutar contra pessoas que conhece bem e que lhe são próximas. Há um eco deste 'radicalismo' na figura de Jesus, quando prescreve aos seus discípulos o abandono de pai e mãe para o seguir. Krishna também quer que o seu "caminho" se sobreponha a todos os laços espirituais ou materiais.

O príncipe é exortado a ver os diferentes protagonistas da batalha como se estivessem empenhados numa 'função' prescrita, cada qual cumprindo o seu dever particular, sem se importar com os afectos (as paixões da tradição platónica) ou com as responsabilidades pessoais. Estas foram endossadas pela oitava incarnação de Vishnú: "Remete para mim todas as obras, pensa na Alma suprema; e, sem esperança, sem te preocupares contigo mesmo, combate e não estejas triste."

Esta paz, esta 'segurança' para aquele que se desprende de todos os laços para se deixar prender apenas pela palavra divina, pela "Via", eis um "êxtase" bem moderno, e tem um lado negro, se olharmos para os seus 'frutos' nas imagens mais violentas da televisão.

A justificação do regime de castas só por si deveria ter tornado a democracia como o mais perigoso dos cavalos de Tróia. Gandhi, realmente, inaugurou uma nova era, mas onde o "fruto das próprias obras" se procura mais do que nunca.

Toda a grande religião pode, aliás, decair e corromper-se como tudo o que é humano. Nalgumas atitudes de obediência cega às ditaduras militares ou às burocracias policiais podemos ver a caricatura do 'Dharma'.




 

 

0 comentários: