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"Quer dizer, as eleições têm cada vez menos efeito prático, porque a parte 'eficiente', funcional da constituição vem sendo de um modo seguro recolocada noutro lugar."
(Katz and Mair, 1995: 22) in "Ruling the void", de Peter Mair
Qualquer pessoa de senso compreende que 'a coisa pública' não deve ser governada por 'campanhas' e discursos sedutores. A complexidade do que está em causa obriga, logo à partida, que a por vezes odiada 'continuidade' seja melhor do que um 'salto no escuro'. É verdade que o desespero força-nos, mais frequentemente do que seria desejável, a dar esse salto.
Daí que, em teoria, seja razoável salvaguardar o núcleo do 'sistema', deixando as 'margens' para consumo da ideologia do 'pane et circenses'.
Vezes de mais, assistimos a políticos que não conseguem dissimular as contradições (com o discurso da campanha) logo no primeiro dia em que se sentam na 'cadeira do poder' e 'tomam consciência' das exigências do dito sistema.
Ora, esta tendência para a complexificação com o inevitável recurso a técnicos especializados no funcionamento e na auto-justificação do sistema, como diria Luhman, cresce com uma evidência que começa a pôr em causa o consenso político.
A democracia já não pode esconder pelo menos a sua semi-nudez. Esse 'semi' é o campo de actuação do populismo político. Teremos que assistir a outro falhanço histórico destes 'pescadores de águas turvas' para reencontrar uma democracia sem mentiras?
A ideia churchiliana tem o mérito de ter admitido a dificuldade essencial (que as eleições não podem 'assaltar a citadela'). E, apesar de se basear numa 'história da carochinha' já contada por Platão, a democracia continua a ser 'o menos mau dos regimes' conhecidos até agora.
No fundo, a democracia (o poder do povo) é utópica e cada vez mais. É o que justifica ingénuos e cépticos.
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