segunda-feira, 9 de março de 2015

O SANTO GRAAL






"A ciência pensa como uma assembleia, como um tribunal ou uma igreja, e funciona como eles, de maneira que, na realidade, a história das ciências evolui, no pormenor como nas leis de conjunto, como uma repetição da história das religiões ou do direito."

(Michel Serres) 

A principal consequência desta situação é que a ciência não teria uma relação privilegiada com a verdade. A eficácia da sua 'visão do mundo' e das suas aplicações não é mais prova da verdade do que o são os dispositivos normativos das 'humanidades'. 

A própria cultura, nesse sentido, é 'verdadeira', por ser uma representação autêntica de uma comunidade.  O que pode a 'descoberta científica' acrescentar a uma cultura genuína é um novo meio de se reproduzir. As interacções sociais são os grandes produtores de 'problemas', a alguns dos quais só a ciência pode responder. O crescimento demográfico (ou o seu contrário), por exemplo, é um caso típico. A ciência pode estar aqui, em parte, na origem do problema (a melhoria das condições sanitárias, novos medicamentos, etc.) e, naturalmente, cabe-lhe ser parte da solução.

A aparente inutilidade de certas pesquisas científicas ou de certa especulação teórica não pode ser senão uma aparência, porque no fundo os verdadeiros  avanços e a as respostas mais procuradas acontecem muitas vezes 'lateralmente' a esses esforços, como se 'através das linhas tortas' uma espécie de providência estivesse sempre actuante.

A inevitabilidade, cada vez  mais notória, com que a ciência se transforma em poder devia-nos impedir de a confundir com a busca da verdade, ou de qualquer Santo Graal.


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