quinta-feira, 19 de março de 2015

ISABEL COM OS SEUS BOTÕES

 


"Era difícil, para Isabel, pensar em si sob qualquer forma distanciada ou privada, ela existia apenas nas suas relações, directas ou indirectas, com os seus mortais semelhantes. Custava até a imaginar que espécie de comércio poderia ela ter com o seu próprio espírito."

"The portrait of a lady" (Henry James)


O 'perfeito animal social' descrito por James terá morrido com o culto da análise psicológica. A integração social não pode ser perfeita se o indivíduo for sempre exterior a si próprio. Mas talvez, até relativamente há pouco tempo, a integração não estivesse ameaçada como hoje está pelo individualismo.


Na época inocente de Isabel Archer, o social era uma peça representada por todos com maior ou menor convicção. O espírito individual era uma declinação da alma, não um novo absoluto, base da consciência e das instituições políticas.

O que é que poderia, de facto, levar a personagem do romance a procurar respostas no seu espírito? Fora das suas relações não havia salvação para uma criatura assim modelada pelo exterior.

O diálogo interior moderno começou pela transformação do confessionário. Rousseau abriu o caminho, falando de si sem qualquer intuito pedagógico ou apostólico (como Agostinho). Apresenta-se ao mundo como o Sujeito em toda a sua plenitude. O individual é o único, a perfeita originalidade. O indivíduo é uma espécie de obra de arte.

Um século depois, através da figura de Isabel, James avalia o passado sob o signo da vacuidade social. Apesar da sua juventude e de ser uma americana na sociedade britânica conservadora, ela é irremediavelmente oca.

 

 

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