"Era difícil, para Isabel, pensar em si sob qualquer forma distanciada ou privada, ela existia apenas nas suas relações, directas ou indirectas, com os seus mortais semelhantes. Custava até a imaginar que espécie de comércio poderia ela ter com o seu próprio espírito."
"The portrait of a lady" (Henry James)
O 'perfeito animal social' descrito por James terá morrido com o culto da análise psicológica. A integração social não pode ser perfeita se o indivíduo for sempre exterior a si próprio. Mas talvez, até relativamente há pouco tempo, a integração não estivesse ameaçada como hoje está pelo individualismo.
Na época inocente de Isabel Archer, o social era uma peça representada por todos com maior ou menor convicção. O espírito individual era uma declinação da alma, não um novo absoluto, base da consciência e das instituições políticas.
O que é que poderia, de facto, levar a personagem do romance a procurar respostas no seu espírito? Fora das suas relações não havia salvação para uma criatura assim modelada pelo exterior.
O diálogo interior moderno começou pela transformação do confessionário. Rousseau abriu o caminho, falando de si sem qualquer intuito pedagógico ou apostólico (como Agostinho). Apresenta-se ao mundo como o Sujeito em toda a sua plenitude. O individual é o único, a perfeita originalidade. O indivíduo é uma espécie de obra de arte.
Um século depois, através da figura de Isabel, James avalia o passado sob o signo da vacuidade social. Apesar da sua juventude e de ser uma americana na sociedade britânica conservadora, ela é irremediavelmente oca.
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