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"O desejo não é mau senão na medida em que já não é estritamente corporal."
(Paul Ricoeur)
Outra maneira de dizer que só o homem pode ser mau. Não podemos, contudo, negar que a nossa cultura associa a maldade a certos animais, cuja violência e aspecto terrível muitas vezes correspondem tão-só a tácticas de ataque ou de defesa instintivas. O lobo, entre nós, tem até o privilégio de ter a maldade associada ao nome (o lobo mau das histórias infantis).
O pensamento modifica o instinto para lá da sua 'necessidade', mas sem a forma natural, a 'maldade' exercer-se-ia no vácuo. Confrontando esta ideia com a tese socrática de que nenhum homem é verdadeiramente mau, compreende-se que a 'natureza' (de que o indivíduo não é responsável) forneça o primeiro impulso que pode ser mais ou menos forte e determinante se a 'filosofia' não o corrigir.
Que os mais violentos usem conscientemente os seus impulsos com a mesma finalidade da táctica animal é uma experiência comum. Essa consciência na maior parte dos casos é mais técnica do que moral, ajudando a obter o efeito pretendido.
A verdade é que não sabemos onde acaba a influência do corpo no nosso desejo.
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