Plínio, o Jovem (catedral de Como) |
"Recentemente, fez-me chamar com alguns dos seus mais íntimos amigos, e pediu-nos para perguntarmos aos médicos aquilo que pensavam do desfecho da sua doença, para se resolver a deixar a vida voluntariamente, se o seu mal fosse incurável, ou a suportá-lo e esperar a cura, se ele fosse apenas longo e penoso."
(Carta de Plínio (o Jovem) a Catilius Severus sobre um amigo comum, Titus Ariston)
Como se vê, já no século II da nossa era, os médicos não diziam a verdade aos doentes, embora tivessem a desculpa de confiar num eventual favor dos deuses, o que é o princípio da modéstia.
Mas, na atitude de Titus, vemos também uma grande dose de confiança na opinião desses profissionais, a ponto de decidirem o seu futuro em função dela.
Sendo o suicídio entre os romanos ( e nas peças de Shakespeare inspiradas na história de Roma) uma questão meramente política, não se confrontando com um interdito religioso como o da tradição católica, era muitas vezes o 'golpe de cinzel' que acabava a estátua para a eternidade do homem público. O renome contava incomparavelmente mais para esse povo do que para nós, que já só o conhecemos sobre as formas mais passageiras, no melhor dos casos para alguns contemporâneos, sem ilusões quanto a qualquer perenidade.
Parece evidente que, para nós, a vida é o valor supremo e, na situação de Titus Ariston, raramente confiaríamos no parecer de um médico para abreviar o nosso tempo de existência em favor do busto em mármore numa galeria do futuro...
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