terça-feira, 3 de março de 2015

O CALIFADO

 

"As mundividências religioso-metafísicas das civilizações antigas são elas próprias já produto do iluminismo, 'demasiado racionais', portanto, para conseguir ainda contrapor o que quer que seja ao radicalizado iluminismo da modernidade."

(Jürgen Habermas)


Projectamos a nossa sombra (ou, neste caso, a luz da nossa lâmpada, já que se trata de iluminismo) sobre as religiões do passado. O 'califado' do Desh é um produto da nossa tecnologia e do nosso mundo fragmentado. Nessa medida, oferece-nos uma incrível imagem de nós próprios que, precisamos de 'denegar', com todas as nossas forças. Até quando esse 'cordão sanitário' poderá recuperar a nossa identidade perdida?


Uma ideia do século VIII? Veja-se a reacção do grupo à eliminação das contas do Twitter. O império que o EI pretende impor sobre o nosso Ocidente mental depende do poder e da velocidade de propagação das imagens. É na nossa imaginação (a começar pela ideia de ressurreição do califado, nova versão do 'creio porque é absurdo'), esse continente que Hitler soube explorar de um modo tão eficaz, que o Desh procura depositar os seus 'implantes', como se de uma técnica como as outras se tratasse.

Parece-nos, na segurança aparente do nosso mundo, que a ideia de ressuscitar o passado (sob a forma 'literal' escolhida pelos ideólogos do EI) nunca atravessaria as nossas mentes 'iluminadas'. Mas temos ainda tão próximo o exemplo de Auschwitz, em que se afundou um dos povos mais cultos da Europa, que é preciso pensar duas vezes.

O 'califado' é moderno porque é 'literal' e inteiramente abstracto. Uma adaptação aos tempos de hoje não teria qualquer credibilidade.

 

 

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