segunda-feira, 16 de março de 2015

O BURACO METAFÍSICO


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"A Terra é tão imensamente grande, e o cosmos tão infinitesimalmente pequeno. O cosmos deve ser o mais pequeno buraco onde o homem pode esconder a cabeça."

"Orthodoxy" (Gilbert K.Chesterton)

Parece  uma  'blague', mas  é um  exemplo  brilhante de como o autor usa o paradoxo em benefício da compreensão do que julgávamos compreendido e adquirido de uma vez por todas. 

O que o paradoxo diz é que o campo da nossa experiência real 'terrena' nem de longe se pode comparar com o da nossa experiência cosmológica. Por muitos registos astrológicos e por muitas cartas do céu que a humanidade tenha anotado e elaborado, desde os babilónios e egípcios até aos mais modernos Hubbles, isso não nos envolve como uma experiência real. De facto, o infinito que por tradição associamos ao Cosmos (todas as tentativas para fundar uma origem e torná-lo finito apenas recuaram o problema) é bem pequeno e, na sua maior parte, abstracto. O que é que isso pode ter a ver com a complexidade da vida do mais humilde dos humanos?

Chesterton diz que a nossa ideia do Cosmos, com a sua suposta vastidão e mundos atrás de mundos , é, talvez, o mais pequeno buraco para escondermos a cabeça. É peciso então 'esconder a cabeça'? Eu interpreto assim: o mundo por nós pensado não pode ter uma 'assinatura visível', senão seria um mundo claustrofóbico, sem alteridade. Assim, escondemo-nos de nós mesmos enfiando a cabeça no buraco metafísico a que damos a volta à velocidade da luz.

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