sexta-feira, 13 de março de 2015

DOUCEMENT

Ruysbroeck

"Recorda esta palavra de Ruysbroeck, o Admirável, um Flamengo como eu: "Mesmo que estejas extasiado em Deus, se um doente te pedir uma malga de sopa, desce do sétimo céu e dá-lhe o que ele te pede." É um belo preceito, sim, mas não deve servir de pretexto à preguiça. Porque há uma preguiça sobrenatural que vem com a idade, a experiência, as decepções. Ah! Os velhos padres são duros! A última das imprudências é a prudência, quando ela nos prepara, sem darmos por isso, a passarmos sem Deus."

"Le journal d'un curé de campagne" (Georges Bernanos)

O que é que nos levaria hoje a aproximarmo-nos desta exigência, quando não se acredita na salvação? A chamada valorização pessoal fica muito longe da marca. Uma causa humanitária não é por si uma garantia. Quantos não parasitam as causas humanitárias...

Mas os homens, sendo o que são, têm de dispor dessa reserva secreta que faz os santos e os pecadores sem culpa do género do padre de Bernanos. É quando nos aplicamos à 'distração' (no sentido teológico) com um ímpeto de alma que a transforma em algo de perverso que se alimenta da nossa força escondida.

A letra é cumprida no caso dos imprudentes de que fala o romancista católico. O contentamento não é sinal de nos mantermos no 'caminho da perfeição'.  A prudência é trocá-lo pela angústia, pela dúvida vivificadora. E o espírito perde-se 'docemente' (é a palavra do escritor ).

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