"As petições que eram oferecidas nos altares de Júpiter ou Apolo exprimiam a ansiedade dos seus adoradores pela felicidade temporal, e a sua ignorância ou indiferença com respeito a uma vida futura. A importante verdade da imortalidade da alma era inculcada com mais diligência, e também com mais sucesso, na Índia, na Assíria, no Egipto e na Gáulia; e, uma vez que não podemos atribuir tal diferença ao superior conhecimento dos bárbaros, temos de a imputar à influência de uma sacerdocracia estabelecida que empregava os motivos da virtude como instrumento da ambição."
"The History of the Decline and Fall of the Roman Empire" (Edward Gibbon)
A "vida futura", para além da existência terrena, não era, segundo o grande historiador, um artigo de fé para os politeístas da Grécia e de Roma. Gibbon considera mesmo que essa ideia de origem platónica é de todo injustificável e interessa só a alguns filósofos.
Em abono desta tese podíamos referir o caso da divinização de alguns imperadores romanos que estavam longe de poder servir de modelo para qualquer espécie de humanidade, o que prova quanto a ideia da imortalidade tinha perdido toda a transcendência e passara a ser mais um "instrumento da ambição".
De resto, essa ideia que sobrevIveu e se revigorou com o fim do paganismo e o advento da civilização cristã, encontra-se hoje num estado muito parecido ao descrito por Gibbon. Paradoxalmente, ou talvez não, é a ciência, ou a ficção científica que lhe procuram algo de parecido com uma transcendência. Um filme recente ("Transcendence", de Wally Pfister) explora o tema como um dos mais 'lógicos' desenvolvimentos da tecnologia. Esse raciocínio implica, naturalmente, que já nos devamos considerar em 'odor de transcendência' em relação ao primata mais próximo.
Essa 'banalização' do transcendente é apenas mais uma tentativa de saltarmos sobre a própria sombra.
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