Cícero |
"O que haverá, com efeito, de mais doce para uma alma livre, generosa e nascida para as nobres fruições, do que ver a sua casa incessantemente ocupada pela chegada de tantos homens do mais elevado estatuto e de saber que isso não é de modo nenhum devido à opulência, à expectativa de uma herança, a algum lugar importante, mas à própria pessoa que esta honra se dirige? Digo mais: os velhos sem herdeiros, os ricos, os poderosos, são os primeiros a vir a casa de um orador jovem e pobre para colocar o seu destino nas suas mãos."
"Diálogo dos Oradores" (Tácito)
A eloquência, o poder da palavra, já foram tão decisivos na política como hoje são as sondagens e a votação nas urnas. Não deixou de haver oradores, claro, mas ninguém vai já a sua casa à procura de belas máximas e de bons conselhos.
O parlamento é o moderno avatar do fórum, resultado da selecção entre os partidos. Nenhum orador tem a liberdade de pensar só pela sua cabeça. A 'linha' do partido, dos porta-vozes, dos chefes de bancada condiciona os melhores 'tenores'. O conformismo e a demarcação recíproca são de regra. Especialmente quando peroram para a televisão, rapidamente se tornam mestres no espectáculo. A realidade tem de partir os écrãs.
Pensando bem, a época dos oradores 'livres' era ainda devedora da cultura oral. Quem poderia hoje competir com a Crítica e a Ciência mesmo no domínio das ideias políticas? Bastava a televisão servir-se duma dessas muletas para arrasar a mais extraordinária das eloquências.
O orador antigo não sabia até que ponto era retórico e manipulador. Hoje sabemos, mas esquecemo-lo uma e outra vez, especialmente quando a Comunicação o esconde com tanta eficácia.
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