"As nossas preferências são acerca de problemas enquadrados e as nossas intuições morais são acerca de descrições, não acerca da substância."
(Daniel Kahnemann, "Pensar depressa e devagar")
Temos, talvez, um reportório de problemas que fazem parte, por exemplo, da 'nossa' ideia de cidadania. É muito fácil que transitemos com esse mesmo reportório para um outro enquadramento sem ver nenhuma diferença.
Plutarco foi o mestre de muitos heróis que vieram depois dos seus modelos deixarem de corresponder aos novos problemas. Mas temos que começar pela imitação, como Marx disse a propósito da Revolução Francesa e das então apregoadas virtudes do povo romano.
A história da nossa vida é o modelo de todas as traições da 'tradução' a que a vontade de contar nos obriga. Nunca conseguiremos narrar a nossa vida, tal como a vivemos. O que resulta de uma biografia é arte, e a arte é auto-suficiente. Não é a ilusão da 'torre de marfim', porque nos escrevemos com tudo o que isso tem de social, a começar pela língua, nem é a ilusão oposta do 'realismo socialista', porque o fim da escrita está em si mesma.
Kahnemann opõe a descrição à substância, também no caso da moral. O caso é que o mais próximo de um princípio moral, ou de uma atmosfera de moralidade é a história de um modelo e de um enquadramento 'amovível'.
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