Costa-Gravas habituou-nos a um cinema de causas. Mas em "L'Aveu" ou "Z" nunca nos ofereceu, com a denúncia em nome dos direitos humanos ou os princípios da democracia, um observador do lado errado que se justifica perante o espectador.
Depois do dissimulado Marc Tourneuil (Gad Elmaleh) ter ganho a confiança do presidente do Banco Fénix e por ele ter sido nomeado seu sucessor, quando um cancro obrigou aquele a abandonar as suas funções, não perdeu tempo e imediatamente virou a organização do avesso com o fim de reforçar o seu poder e de enriquecer o mais rapidamente possível. Sem os escrúpulos dos tradicionalistas que acreditavam ainda na conciliação de todos os interesses e na função económica do banco, Tourneuil surpreende com a sua 'blitzkrieg' e uma invulgar ferocidade.
Mas um grupo de accionistas de Miami vem lembrar-lhe que quem manda são eles. Aprovam a razia no pessoal da empresa e a subida da cotação em bolsa, e exigem mais, na sua estratégia para comprar o banco ao desbarato. Tourneuil é obrigado a adquirir uma companhia japonesa de alto risco, o que provoca a queda abissal das acções do banco Fénix. É o momento do nosso presidente, fazer avançar as sua peças. Antes de anunciar a compra japonesa, passa a informação a um concorrente que se pode assim antecipar à mafia americana e se vê constrangido a confirmá-lo na presidência do banco.
A ganância doutrinária de Tourneuil (não há nada para além do dinheiro) confronta-o com ex-amigos, com a família, ocasião em que as piedosas esperanças dum tio comunista são ironicamente comparadas com a 'verdadeira' revolução do dinheiro.
As 'confissões' deste predador ao longo do filme dão-nos a ideia de que o dinheiro é uma espécie de divindade (Pluto?) a que os homens não podem deixar de se submeter, como se submetem a Cupido/Eros (outro deus romano).
A tirada final de Tourneuil para a câmara compara, aliás, a alegria dos quadros que aclamam o seu 'regresso' à presidência e o seu declarado projecto de continuarem todos "a enriquecer à custa dos pobres." a uma manifestação de adolescentes.
Esta psicologia não é melhor do que aquela que atribui o comportamento desviante de financeiros e especuladores à ganância e à paixão do jogo.
De todo o modo, é preferível a uma mais que datada psicologia de classe. Assim não podemos ter ilusões acerca da utopia do homem novo numa sociedade 'sem classes'.
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