"É fácil manter-se quieto e não deixar rasto, mas é difícil andar sem tocar a terra. Se segues os métodos humanos, poderás enganar e conseguir ainda escapar. No caminho do Tao, o engano é impossível.
Sabes que se pode voar com asas: falta-te aprender a voar sem elas. Estás familiarizado com a sabedoria daqueles que sabem, mas ainda não conheces a sabedoria daqueles que não sabem.
Observa esta janela: não é mais do que um buraco na parede, mas graças a ele todo o quarto está cheio de luz. Assim, quando as faculdades estão vazias, o coração enche-se de luz. Ao estar cheio de luz, converte-se numa influência por meio da qual os demais se vêem secretamente transformados."
"Escritos sobre Chuang Tzu" (Thomas Merton)
O discípulo é dissuadido por Chuang Tzu de se precipitar na acção, pois por essa via encontrará necessariamente inimigos e, no fim, tudo permanecerá igual. A sua sede de justiça esgotar-se-á nos primeiros esforços. São os 'métodos humanos' que nos submetem todos aos trabalhos de Sísifo.
A 'boa-vontade' de que se fala no Evangelho, também poderia ser vista como uma 'transformação interior', mas como o demonstra a tradição dos mártires da Igreja, não estaria completa sem o confronto com a intolerância e a injustiça. Mas esta 'militância' inspira-se em quê? Talvez no episódio da expulsão dos vendilhões, ou na violência descritiva de algumas passagens do Livro.
Mais interessante ainda é a expressão: 'sabedoria dos que não sabem'. E outra aproximação pode ser feita com o texto evangélico. Por exemplo, com o exemplo dos lírios que não sabem fiar e que Deus vestiu sumptuosamente. É a poesia, de facto, que nos pode ajudar a compreender o oxímero de uma sabedoria que não sabe.
Note-se que não se trata de um instinto, nem de uma prática tradicional e sem conceito. É a ideia de uma perfeita e dócil instrumentalização pelo divino, como queria Simone Weil.
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