sábado, 13 de agosto de 2016

AS JÓIAS SONORAS

Charles Baudelaire (1821/1867)

"De resto Baudelaire é um grande poeta clássico e, coisa curiosa, este classicismo da forma é aumentado em proporção pela licença das pinturas."
"Sur Baudelaire, Flaubert et Morand" (Marcel Proust)

Esta observação de Proust leva-me a procurar identificar na psicologia um exemplo semelhante de contenção da forma e desregramento do conteúdo.

Encontro isto: quando alguém diz coisas enormes com uma perfeita fleuma, risíveis, mantendo um sério imperturbável.
Neste último caso, seria até a fórmula de obter um efeito mais cómico.

Suponho que os períodos de transição sejam propícios a estes "atrasos" da forma, com efeitos tão surpreendentes quanto os clarões numa nudez que só deixasse as suas "jóias sonoras".

La très-chère était nue, et, connaissant mon coeur,
Elle n'avait gardé que ses bijoux sonores,
Dont le riche attirail lui donnait l'air vainqueur
Qu'ont dans leurs jours heureux les esclaves des Mores.
de "Les Bijoux" de Charles Baudelaire

0 comentários: