terça-feira, 16 de agosto de 2016

A BÍLIS E O SER

Martin Heidegger (1889-1976)


"Heidegger é o pequeno-burguês da filosofia alemã, que pôs à filosofia alemã o seu barrete de dormir "kitschig", o barreto preto e "kitschig" que Heidegger usava sempre, em todas as ocasiões. Heidegger é o filósofo de chinelos e barrete de dormir dos alemães, nada mais.

(...) sempre me repugnou, porque tudo em Heidegger foi sempre para mim asqueroso, nem só o barrete de dormir na cabeça e as ceroulas de Inverno de tecido caseiro por cima do fogão aceso por ele próprio em Todnauberg, nem só o seu bordão da Floresta Negra por ele próprio entalhado, tal como a sua filosofia da Floresta Negra por ele próprio entalhada, tudo neste homem tragicómico foi sempre para mim asqueroso, me repeliu sempre profundamente, em qualquer altura que nele pensasse;"

" Antigos Mestres" (Thomas Bernhard)

A caricatura parece certeira, quando se olham as fotografias e se pensa na forma como tratou o seu mestre Husserl.

O homem exterior está todo nessa figura ridícula, se quisermos (se atravessarmos um limite), com a sua boina preta e o seu bordão. Mas o desenho vai mais longe. Sugere que a impressionante obra filosófica é uma fraude que corresponde ao envelope desse corpo.

O imenso cortejo de admiradores e de discípulos aparece então desencaminhado e seduzido por um contexto lamentável.

Sabemos que a bílis de Bernhardt é particularmente propensa à decomposição de ácidos gordos de essência austro-germânica. Não o podemos levar a sério.

E, no entanto, nunca mais voltarei e olhar uma fotografia de Heidegger da mesma maneira.

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