"Não se pode descrever bem a vida dos homens se a não fizermos banhar no sono em que ela mergulha e que, noite após noite, a contorna como a uma península rodeada pelo mar."
("À la recherche du temps perdu, le Côté de Guermantes", Marcel Proust)
O paradoxo é que essa parte da nossa vida não conta para a maior parte, e alguns sonham em reduzir o tamanho da 'península' ao de uma ínsua à margem da vida, quase sem solução de continuidade. A verdade é que já se pensou em 'aprender' durante o sono, isto é, sem passar pela experiência.
Em contrapartida, lemos com deleite as observações deste 'especialista' do sono. Como se entra e sai dele, como se confundem as formas na passagem, e são páginas e páginas voluptuosas, para quem não tem pressa de chegar ao fim.
É uma verdade que devia entrar-nos pelos olhos dentro, mas que, talvez por boas razões, recalcamos. Durante o sono é como se recebêssemos da terra uma recarga de vitalidade para a nossa existência estremunhada. E já uma vez aqui comparei essa situação com as vagens adormecidas de um célebre filme de Don Siegel ("Invasion of the bodysnatchers", 1956).
Não podemos, realmente, compreender o homem apenas pela sua vida activa. E se um dia conseguirmos 'largar no espaço' essa parte de nós, parece que, ao mesmo tempo, teremos descolado do planeta para sempre.
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