"A sua conduta nesta jornada contribuiu poderosamente para os miraculosos acontecimentos que mudaram a face de Paris, e derrubaram os projectos dos nossos opressores. Quando uma cidade inteira é levada a este estado de estupor e de apreensão pelo seu bem-estar, que já não permite que se receie o perigo, basta um entusiasta, um homem devotado, para a revolver, para a precipitar no perigo mesmo e fazer de uma massa inexperiente um corpo de soldados heróicos."
(Robespierre sur Camille Desmoulins)
Assim fala o homem, amigo pessoal de Desmoulins, que há-de condená-lo à guilhotina, ao lado de Danton e de outros. Como se diz, a Revolução devora os seus próprios filhos.
Desmoulins foi o generoso herói de uma onda de entusiasmo que o dispensava da objectividade quanto ao futuro do seu país e de pensar na sua própria segurança. As suas dúvidas começaram logo que os vapores da unanimidade se dissiparam. E daí o seu percurso caracoleante que o tornou mais próximo da dantonesca figura, culpada de 'moderação'.
Robespierre, de todas as personagens do grande drama histórico desse final do século XVIII, é, talvez, a mais trágica.
O que ele diz do entusiasmo revolucionário é bem certo. Porém, esqueceu-se de que na origem dessa palavra está a posse pelo deus. O deus que mata aqueles que favorece.
Deve ter havido um momento na vida deste pequeno advogado da província em que ele sentiu a cera das suas asas a derreter...quando já não podia crer, mas tinha apenas de ser consequente.
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