"(...) toda a gente fora da 'polis', escravos e bárbaros, era 'aneu logou', privado, naturalmente, não da faculdade da fala, mas de um modo de vida no qual a fala e só a fala fazia sentido e onde a preocupação central de todos os cidadãos era falar uns com os outros."
(Hanna Arendt)
Não se deve levar esta ideia para o lado da proverbial tagarelice dos Gregos. Porque uma linguagem, uma mundividência não se constroem com indivíduos isolados ou desenraizados. Era o caso dos escravos, antigos prisioneiros de guerra ou descendentes destes.
A Grécia clássica não durou o tempo bastante, ou o seu sistema de classes foi suficientemente estável para que os 'aneu logou' tomassem a palavra e se pudesse falar numa cultura própria.
A própria noção de uma 'vontade de falar' característica do cidadão ou do emancipado presta-se por demais a uma interpretação pela dialéctica marxista para esta não se impor, à falta de melhor. A classe ociosa é a que tem todo o tempo para falar consigo própria.
É verdade que através dessa 'actividade' se chegou a algo de novo que está na base do mundo moderno. A ciência, nem é preciso relembrar as séries de Auguste Comte, começou pela especulação teológica, fase que, entre os Gregos, já não se podia incluir na tagarelice e no falar por falar.
Tudo isto sugere que a linguagem nos conduz mais do que a conduzimos. Que ela, por assim dizer, 'sabe mais' do que aquilo que lhe 'ensinámos'.
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