domingo, 17 de julho de 2016

O RESGATE DE EURÍDICE

"Solaris" (1972-Andrei Tarkowski)


"Solaris" não se passa no espaço físico, mas no cosmos, entre os vivos e os mortos.

Um verdadeiro contacto se estabelece e que é sempre uma ressurreição. Uma segunda oportunidade para se reparar a pobreza do amor e a injustiça que é o esquecimento.

O oceano de plasma (podia ser o éter ou o espírito do cosmos) sondando o sono dos astronautas convoca o passado essencial dos afectos.

A mulher, que se suicidara dez anos atrás por falta de amor, volta, nas condições de Solaris, para que possa ser resgatada.

O milagre desta aparição é que não a achamos artificial, nem inverosímil. Essa mulher não é uma replicante ( como em "Blade runner" ou na série de "Alien"). É um ser misterioso saído do sono de Kelvin, nem puro pensamento, nem alucinação dos sentidos, incarnado sem ter um verdadeiro corpo.

Como seria a humanidade na eternidade do amor. Com o mesmo olhar com que Brueghel envolve os seus vultos de camponeses absorvidos na sua tarefa diária, guardando rebanhos ou laborando a terra, minúsculas chamas brilhando na neve.

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