"Sabemos que Roma é uma cidade carregada de História, mas a sua sugestão está antes num quê de pré-histórico, de primordial, que nitidamente aparece em algumas das suas perspectivas ilimitadas e desoladas, em certas ruínas que parecem resíduos fósseis, ossos, como de esqueletos dos mamutes."
(Federico Fellini)
O cineasta italiano diz também que em Roma há pouquíssimos nevróticos o que impediria uma certa maturidade:
"Aqui não há nevróticos nem tampouco adultos. É uma cidade de crianças apáticas, cépticas e mal-educadas; até um pouco disformes, psiquicamente, já que impedir o crescimento não é natural."
(idem)
É um paradoxo que a história, na cidade antiga mais 'documentada' tenha sido devorada por um passado ainda mais antigo. É certo que Fellini se refere à sugestão ou à imaginação. Mas as ruínas não têm que ser interpretadas como prova do passado. A proeza de Fellini é conseguir dirigir aos vestígios da Roma Antiga um olhar tanto quanto possível inocente de qualquer leitura histórica.
Assim, o que acontece é que a 'pègada humana' perde os seus contornos na 'pègada' maior. Com isto, são também os traços da culpa que se apagam.
O habitante da Roma felliniana vive numa espécie de limbo sem a falsa profundidade da culpa. E tudo isto é o mais pagão que podemos imaginar.
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