quinta-feira, 21 de julho de 2016

INDIRECTA E OBSCURAMENTE



(Santo Agostinho)

"Per speculum in aenigmate (por reflexo e obscuramente)"
Santo Agostinho

A força do sol não se pode olhar directamente. Demasiada luz 'come' a verdade.

Os cavernícolas de Platão estariam assim numa situação de vantagem. Se soubessem que lidavam com reflexos e fossem capazes de fazer a conversão para a 'realidade' que se encontraria sob a luz directa do astro-rei.

Os escolhidos abandonam o mundo subterrâneo para, depois de um momento de ofuscação, verem as coisas tal como elas são, sob a luz da verdade (o Bem). Platão diz que, depois disso, os 'iluminados' deveriam regressar à Caverna para ensinar os outros homens a 'mudar de vida'.

Reconhecemos aqui o modelo de todo o messianismo. Mas Agostinho, na 'Cidade de Deus', elege como inimigo o mundo das trevas, a Cidade do Diabo'. Poderia a Caverna escapar à identificação com o Mal?

Talvez a fórmula inicial, não pertença ao Agostinho polemista e doutrinador. O 'clarum per obscurius' que, por exemplo, Chartier admirava, talvez seja menos um método do que uma apologia da passagem, no espaço teológico, do inferior para o superior.


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