sexta-feira, 22 de julho de 2016

O MITO DE FREUD




"Canetti faz parte da pequena constelação de espíritos e sensibilidades de primeira água do nosso tempo que rejeitaram Freud e a construção psicanalítica como uma mitologia artificiosa e anti-histórica, cujo método é, no melhor dos casos, de ordem estética e cuja base material de demonstração os sonhos, actos de linguagem, estilos de atitude de uma população de raíz judaica na Europa Central 'fin-de-siècle', primordialmente feminina e da classe média é quase absurdamente limitada."
(George Steiner)

A mitologia mais bem sucedida do século XX. E isto porque tinha os condimentos necessários, de ordem cultural e literária, para 'explicar' a fenomenologia da psique. Steiner situa a sua matriz social com razoável presunção.

O comportamento humano é demasiado condionado pela nebulosa histórica e contextual para se poder isolar um mecanismo de causa-efeito. Mas uma história tem o seu próprio sentido que impõe aos factos a que dá cobertura, quaisquer que eles sejam.

Se podemos tornar compreensível uma assim chamada sucessão de factos através de uma narrativa, não o deixaremos de fazer, mesmo à custa da racionalidade estrita.

Onde não havia quase nada, a psicanálise criou os seus mitemas e um método de interpretação que só não são fraudulentos porque não podemos viver sem essa forma 'espúria' de pensamento.

Não se pode provar que a teoria de Freud seja falsa, tampouco como o podemos fazer em relação aos deuses gregos.

Os efeitos da psicanálise, limitada 'visão do mundo' embora, são reais, ao mesmo título que o são os efeitos do 'Génesis' ou da 'verdade' cientificamente estabelecida.

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