"Já Tucídides observava que a força que faltou, aquando da expedição de Tróia, foi precisamente o dinheiro. Por causa desta 'falta de dinheiro' (akhrēmatía), tudo era muito menos poderoso do que se ia seguir, mesmo se fosse muito mais glorioso."
(Roberto Calasso)
O dinheiro e a tecnologia tornam as guerras modernas cada vez menos 'gloriosas', do nosso ponto de vista, claro. Porque os que continuam, onde quer que seja, a fazer-se explodir em nome da religião, esses conhecem a sua versão da glória que lhes é incutida por autênticos ou pérfidos mentores.
A guerra entre gregos e troianos ter-se-ia decidido mais cedo, com menos custos humanos, se abundasse a força do dinheiro, ou se o valor das partes não se equivalesse. Mas os Gregos combatiam pela honra e por um fantasma chamado Helena (poderia estar no Egipto, ou em qualquer nuvem), enquanto os troianos de Heitor lutavam pela sua cidade e pela vida dos seus.
Assim, não se compreenderia como foi possível o triunfo dos Gregos. O pretexto de Helena deve ter servido no tempo das incertezas, da falta de vento, da quezília entre Aquiles e Agammemnon. Mas os primeiros mortos encarniçaram a guerra e tornaram-se o motivo principal. Foi a morte de Pátroclo que fez o filho de Tétis abandonar o seu amuo tão impróprio de um 'herói'. A cólera de Aquiles é o símbolo da força precária dos Gregos. Não houve uma falta dessas na cidade sitiada.
É aqui que entra uma força superior à do dinheiro, à coragem e ao valor militar, que faz a guerra sair do impasse. É a força da inteligência que se revela no estratagema de Ulisses. É também uma força sem glória e, até por isso, deveria opor-se a todas as guerras. Mas nem sempre está à mão no momento preciso...
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