segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

CASUÍSTICA

Charles Maucourt: expulsão dos jesuítas de Espanha

"Eles têm uma tão boa opinião sobre si próprios a ponto de acreditarem que é útil, e de alguma maneira essencialmente necessário ao bem da religião, que a sua reputação se deveria estender a toda a parte, e que  deveriam governar todas as consciências. Mas como estas máximas não estão de acordo com a maneira de ver da maioria das pessoas, não se insiste nelas em relação a essas pessoas, para permitir a satisfação geral. A este respeito, tendo de lidar com pessoas de todas as condições de vida e de todas as diferentes nações, é necessário recorrer à casuística para corresponder a toda esta diversidade."

"Lettres Provenciales" (Pascal)

Este é, afinal, o espírito da famosa casuística depreciativamente  atribuída aos jesuítas. E por que é tida em tão má conta? Pelo seu formalismo, me parece. Que a lei geral deva ser adaptada ao caso concreto, é uma necessidade. Mas não pela dedução especulativa. Sem dúvida, os Jesuítas foram grandes organizadores e grandes educadores, num sentido que levou à dessacralização da sociedade e ao advento do mundo moderno. Esta confluência de tantas forças no mesmo sentido e partindo de uma mesma matriz do pensamento, é aquilo a que Foucault chamou de paradigma.

Talvez neste ponto, o Cristianismo tenha abandonado de vez  a literalidade da Bíblia em favor de uma abertura hermenêutica.

A casuística da Companhia tornou-se assim num verdadeiro Cavalo de Tróia, que podia prescindir da fé para encarnar a lei no caso concreto.

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