sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A RODA



" uma interpretação plausível é a de que o rendimento mais elevado está associado a uma capacidade reduzida para apreciar os pequenos prazeres da vida."
(Daniel Kahnman)

'Pobrete, mas alegrete'? Pobrete não é o mesmo que pobre pobre. Alegrete, pelo seu lado, também não é verdadeiramente alegre.

Quem não se deixou prender por um estatuto ou pela 'emulação' consumista pode ainda apreciar os 'pequenos prazeres' não organizados para uma determinada produtividade social. Esses prazeres são gratuitos como a arte devia ser.

O automóvel, por exemplo, não é uma simples utilidade. Os publicitários cedo viram o seu potencial simbólico, como o ego nele investe tão completamente. Este centauro mecânico que é o homem e o seu automóvel pode transformar o pequeno prazer de andar a pé numa perda de tempo e esforço. Mc Luhan considerava todo um ramo da tecnologia como uma 'extensão' do nosso corpo. Será que quando nos 'prolongamos' assim, descobrimos novos prazeres que não perdem em favor dos bons velhos prazeres do 'macaco nu'?

Mas Kahnman parece ter descoberto uma fórmula equivalente àquela que Marx aplicou ao capitalismo: a tendência para a queda da taxa de lucro. O prazer sofisticado, ou simplesmente mais complexo, levaria a uma desvalorização da 'taxa de prazer'.

Há, talvez, por detrás desta ideia, um moralismo muito nosso conhecido. Porque nem sequer somos capazes de imaginar o prazer que o domínio do cavalo ou a invenção da roda trouxeram aos nossos civilizadores.

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