quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O QUE É PRECISO

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"E a Necessidade, recorda Eurípides, por a ter conhecido 'atravessando as Musas e os cimos', sem nunca ter encontrado 'nada de mais forte', é a única potência que não tem altares nem estátuas. Ananke é a única divindade que não escuta os sacrifícios."

(Roberto Calasso)

Como é que esta deusa intransigente convive com a moderna economia? Porque, de facto, não temos melhor compreensão do nosso destino e da inflexibilidade dos 'factos da vida' do que os Gregos.

Quando, em nenhuma parte podemos aceitar o mistério como situação definitiva porque, afinal, roubámos o fogo aos deuses e adquirimos o segredo do conhecimento como um progresso sem fim.

A 'ciência' da economia em grande parte dedica-se a interpretar os poderes de Ananke. Se atentarmos aos mais comuns aforismos sobre a necessidade, como 'não há almoços grátis', 'quem semeia ventos, recolhe tempestades', etc., veremos que podem quase todos ser cobertos pelo chapéu da economia.

E, apesar dos seus incessantes falhanços, essa 'ciência' parece continuar a ser a resposta mais inteligente que podemos dar a este tipo de problemas, já que considerar a nossa ignorância como impeditiva de qualquer esforço, impediria a deusa de entretecer a malha com que nos enreda, a qual é um ingrediente indispensável ao sucesso da sua inflexibilidade.

Ao contrário de Ananke, a economia 'aceita sacríficios' de bom grado e agrada-lhe o incenso da popularidade e do poder. Mais uma vez, isso acaba por 'levar água ao moinho' da deusa.

Claro que é mister substituir este mito grego por uma fábula moderna, adornada de equações e fórmulas esotéricas. E embora, no fundo, seja pior explicação do que o original, não deixa de ser uma exigência do mundo que, entretanto, criámos.

 

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