"A Divina Comédia" ilustrada por Doré
Se houve homem que acometesse a temerária empresa de julgar os homens do seu tempo e os dos tempos passados, como se fosse Deus em pessoa, cedendo sem pruridos às suas simpatias e antipatias pessoais, sempre sob a capa da infalível justiça, atribuindo com uma precisão quase burocrática a cada falta a sua correcção e a cada crime o seu castigo, e o tempo dele, e o lugar (círculo ou a bolsa deste), esse homem foi Dante.
Espantamo-nos por ver certas figuras da História, cujos erros e loucuras se transformaram no motor duma injustiça mecânica "(...) é um tema recorrente de todo corpus lendário do mundo. O inferno representado não como arbitrário castigo mas como horrível e interminável repetição de um gesto." - Cristina Campo) que estava para a sua causa como o mistério divino para a razão humana, injustiça essa que deveria receber por direito, como essa paisagem infernal, o qualificativo de dantesca.
A "Divina Comédia", na sua desmesura e genial visão é talvez, mais do que tudo, uma alegoria da inconsequência e do absurdo do juízo humano sobre o semelhante.
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