quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O CIDADÃO DO MUNDO




(A Carta de 1826 reservava) "a cidadania política para aqueles que tinham meios para uma vida independente, segundo o modelo clássico do cidadão, e interesse na manutenção da ordem pública."
"História de Portugal" (Rui Ramos & al.)

Dir-se-ia que o Cristianismo não passou por aqui. A igualdade, reconhecida no Céu, não está ao abrigo da mesma jurisdição na Terra, e só encontrou tradução política na Revolução Francesa, para confirmação do poder de facto do Terceiro Estado. Parecia ter razão Karl Marx quando viu na revolta e elevação à cidadania dos 'últimos da terra' o princípio da libertação da Humanidade.

A 'vida independente' confunde-se hoje com o individualismo, este, porém, continua a ser uma quimera para grande parte da humanidade, uma quimera que nem sequer pode ser aprovada por todos como um ideal.

Quanto ao interesse na ordem pública, esse, enfim, alargou a sua base de apoio, sobretudo no Estado social, onde a desigualdade é até certo ponto compensada pelos impostos. E mesmo num país como os EUA, tão relutante em constranger de qualquer modo que seja a liberdade dos interesses económico-financeiros de uma casta, a ordem pública merece um amplo consenso. De uma forma contraditória, embora, por se mostrarem conciliadores, não só com o 'lobby' das armas, mas com todos esses anacrónicos cultores dos mitos do Faroeste.

O atraso com que as modas europeias chegavam a este cantinho do continente preservou-nos do ambiente excitado dos grandes momentos de crise. Podíamos repetir os mesmos erros dos nossos 'congéneres', mas estes, encontrando-se já no estádio seguinte, podiam ser mais razoáveis e... mais cínicos.

A presente fase de globalização por via da técnica mudou drasticamente os dados da situação. Diferentes tempos e modos tornaram-se simultâneos e actuais. Tudo isto corresponde ao que se poderia chamar de uma implosão da história e das entidades políticas tais como as conhecíamos.

Será concebível ainda a ideia de um cidadão do mundo?



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