quinta-feira, 11 de junho de 2015

O CASTELO INACESSÍVEL



Volto a embrenhar-me com Kafka no labirinto do sem-sentido.

A absoluta originalidade deste autor terá as suas raízes de que não sei o suficiente para afirmar sequer uma influência. Às vezes, dir-se-ia que se socorre da "técnica" do sonho, descrevendo situações absurdas que, afinal, estão apenas deslocadas em relação à nossa experiência.

A psicologia das personagens nunca está ao serviço do drama, mas da ironia e duma estratégia de desorientação do leitor, o qual, a cada momento, tem de se reposicionar para não perder de vista o seu mundo, que é o único mundo, por detrás da estranheza.

Compreende-se por que razão Kafka se ria tanto ao ler aos amigos aquilo que escrevia...

No "Castelo", o poder torna-se romanceável pela primeira vez. E até a figura gemelar dos assistentes que são testemunhas indesejáveis de todos os momentos de K. parecem menos reais do que representar uma hipóstase política alojada num canto do nosso cérebro.

Ou então, é a narrativa da doença psíquica, a paranóia, por exemplo. A realidade é tratada como uma conspiração contra a personagem. Toda a gente, na aldeia, se ocupa, duma maneira ou de outra, do pobre K.

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