sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

ORFEU

 

"Se o fragmento 133 de Píndaro ilustra bem o orfismo, então a alma daquele que dorme, vela; e a alma daquele que vela, dorme."
(Paul Ricoeur)

 

Os textos da antiguidade são sempre enigmáticos, o que não quer dizer que não esteja ao nosso alcance tirar deles múltiplos sentidos, conforme os contextos pressupostos.

O tempo, 'esse grande escultor', é também um 'imenso escritor' de fragmentos. Se pusermos de lado os aforismos com que alguns autores deliberadamente nos deixaram numa 'encruzilhada' de sentidos, os aluviões da história arrastaram até nós pedaços do que já foram obras acabadas, que entretanto perderam a cabeça ou as pernas (ainda numa comparação com a estátua), mas, ao mesmo tempo, ganharam incomparavelmente mais no plano simbólico. O que falta ao torso que se encontra na Gulbenkian, ou à Vitória de Samotrácia do Louvre?

Não podemos saber se este fragmento 133 está a ser interpretado conforme a intenção do poeta grego. Mas a teoria do orfismo não tem muitos documentos em que se apoiar. É assim que Ricoeur nos propõe esta 'pedra angular' tão sólida como qualquer mito antigo.

 

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