terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O QUE PENSAMOS

Oscar Wilde

 

"'Aprende-se o que se pensa, escrevendo.' Retenhamos esta fórmula; no fundo, ela significa que um pensamento que não se pode formular não existe."

André Sernin in "Alain"

Quer isto dizer que não chegam a ser pensamentos as ideias que nos ocorrem numa conversa? Ou as que surgem no nosso monólogo interior, durante uma leitura, ou numa simples divagação?

É a forma fixada na escrita que nos permite julgar e desenvolver a ideia que, de outra maneira, não passa do estado larvar ou ilusório. Oscar Wilde, gostava de dizer que o melhor do seu espírito o aplicava na conversação mundana, a sua obra escrita tendo de se amanhar com o resto. Para além de não podermos testemunhar a invenção da sua palavra, o que significa que para nós já não existe, não sabemos, nem nunca saberemos, o que o nosso 'dandy' nos teria legado, se não se tivesse divertido tanto nos salões.

Hoje, que podemos registar quase tudo, talvez que esse Oscar Wilde fosse acessível à posteridade. Mas faltar-lhe-ia algo do acto de escrita que, à falta de melhor, temos de chamar ético. A intenção de ser lida e de merecer ser lida.

Mesmo se escrevêssemos para saber o que pensamos, sem outra preocupação, conforme a ideia de Alain, já estaríamos fora da cápsula individual e a participar na comunidade do espírito. Quem 'escreve para a gaveta' sabe que a escrita é tudo menos um acto solipsista.


 

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