Ernst Lubitsch (1892/1947) |
Mary Pickford, depois de trabalhar com Lubitsch, queixava-se de que ele só filmava portas. Mas, em Lubitsch, as portas, a porta de alcova, sobretudo, permitem-nos imaginar o que se passa por detrás. As personagens que saem sabem todas mais do que nós, o que as torna logo mais interessantes.
O famoso Lubitsch's touch está nesta ocultação, na montagem virtual deixada ao espectador que o envolve no trabalho do sentido.
"To be or not to be", que foi tão mal recebido e considerado de mau gosto, no contexto da 2ª guerra mundial, tem uma cena de porta fechada absolutamente genial. É quando Tura fica sozinho com o cadáver de Seletsi, personagem por quem se faz passar. Os nazis, do outro lado, deleitam-se maldosamente nos apuros em que se encontra o espião desmascarado.
Mas o teatro continua, Tura é um actor.
A simulação da realidade pelo grupo de actores polacos, cuja eficácia, nem por ser inverosímil nos delicia menos é, de facto, mais subversiva e crítica do que outras tentativas de abordar o nazismo pela comédia ("O grande ditador", de Chaplin) ou pelo sonho ("A vida é bela" de Benigni).
E até a frase mais conhecida do solilóquio de "Hamlet" parece o melhor dos prólogos a esta paródia da acção.
E não é verdade que o espírito e a invenção desses actores, a urgência do seu guião patriótico só se tornam absurdos pelo medo?
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