Gigantomaquia do altar de Zeus em Pérgamo |
"(...) ao passo que na sociedade comunista, na qual cada homem não tem um círculo exclusivo de actividade, mas se pode adestrar em todos os ramos que preferir, a sociedade regula a produção geral e, precisamente desse modo, torna possível que eu faça hoje uma coisa e amanhã outra, que cace de manhã, pesque de tarde, crie gado à tardinha, critique depois da ceia, tal como me aprouver, sem ter de me tornar caçador, pescador, pastor ou crítico."
"A Ideologia Alemã" (Karl Marx e Friedrich Engels)
De algum modo, a implausibilidade desta profecia, graças ao desenvolvimento da tecnologia (que não pela acção de qualquer vanguarda política), parece hoje menos implausível, haja indivíduos que gostem de saltitar de ocupação em ocupação, como Hynkel no "Grande Ditador" de Chaplin, aflorando as teclas de um piano num momento, posando para o busto em mármore noutro e acabando por tratar o globo como uma bola de futebol.
É evidente, de qualquer modo, que aqui já não estamos no reino da necessidade, como dizia a antiga filosofia, mas no da "Lógica" e da aplicação do princípio "de cada um de acordo com as suas capacidades, a cada um conforme as suas necessidades". Com uma pequena correcção: as 'capacidades' de cada um só resultarão em proveito dos que necessitam se obedecerem a um plano, ou teríamos aqui um avatar da célebre "Mão Invisível".
Mas isto é ainda crítica da utopia (porque não assumida como utópica). Se considerarmos o que sobrou da herança histórica, ficamos reduzidos à eterna questão da desigualdade social.
Particularmente, o conceito de 'classe dominante' que em certas sociedades do passado e do presente é, de facto, 'operável' e permite determinar um alvo objectivo, tornou-se nas sociedades mais complexas, politicamente reguladas pelo sistema de partidos (em que a utopia se converteu no melhor garante da estabilidade), um componente essencial duma nova 'gigantomaquia'.
Hoje, quando o chamado capitalismo financeiro trata a economia mundial como ficha de casino, onde as invenções 'high-tech' mudam o mapa económico e cultural fora de qualquer racionalidade, de tal modo que são hoje a verdadeira Revolução (sofrida nos empregos e na estabilidade, e ao mesmo tempo desejada pela nova 'classe média' e pela juventude que a ela pode ter acesso), hoje, dizia, a 'classe dominante' no espírito passadista, também dito 'refractário à mudança', continua a ser a mesma e a dominar da mesma forma que no século XIX.
Por definição, domina absolutamente, pela violência como os titãs da mitologia, mas controlando o seu destino e o dos seus dominados com a lucidez dum gabinete de peritos.
Saber que a Goldman Sachs é um gigante com pés de barro e comete erros inconcebíveis é melhor conforto.
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