Marcelo apareceu de improviso no congresso do seu partido e foi, como era esperado, festivamente recebido. Apesar de algumas liberdades que se permite, em relação ao Governo, no seu programa de televisão, ninguém tem dúvidas de que esse 'jogo' é uma mais-valia para o partido. Dizem que é como a caução de um certo pluralismo...
Mas o popular comentador, que tem um estilo tão televisogénico, depende também dessa licença para mordiscar, sem maldade, os figurões da política. Precisa de ser credível e consegue-o graças a um talento inimitável de 'trocar por miúdos' qualquer assunto complexo, o que faz dele uma espécie de 'divulgador' interessado. Toda a gente sabe que Marcelo nunca se juntará a Pacheco Pereira, do outro lado do Rubicão. Por isso um foi quase 'erguido em ombros' e o outro vaiado sem remissão.
José Sócrates quis criticar a 'quase-instituição Marcelo', mas só pôde fazê-lo acentuando um ponto de vista de 'gravitas', hoje humilhado nos estúdios de televisão (é a parte mais cómica de Jim Hacker, a personagem de uma conhecida série britânica), e que o próprio Sócrates nunca cultivou durante o seu mandato.
É verdade que a linguagem que o comentador trouxe ao Congresso é simplista e redutora, como a que se usa no futebol, sem dúvida, o mais popular dos tele-desportos. É sobretudo a linguagem do espectáculo sem rebuços, dentro de um outro espectáculo (o Congresso), que não se pode assumir como tal.
José Sócrates tocou num ponto crucial, que não é um 'problema de forma', mas de substância: que política é esta que se faz para a televisão e que o 'feiticeiro de Oz' da TVI cunhou, por uma vez, neste abraço aos seus correlegionários?
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