quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

JOB

Job

 

"Da mesma forma, a totalidade da experiência humana assume um carácter penal. Ora, esta visão moral do mundo foi desfeita pelo próprio pensamento judaico quando meditou sobre o sofrimento do inocente."

"A Simbólica do Mal" (Paul Ricoeur)

O castigo imposto a Job não corresponde a nada que ele tenha feito ou deixado de fazer. Ele é o justo contra quem faltam as provas. Mas não sofre sem protestar a sua incompreensão, sem interpelar Jeová sobre essa espécie de justiça.

Mas não era essa a lei antiga que punia os filhos pelas faltas dos pais? Job quer ser julgado pelas suas próprias faltas. Sobrevive aqui um arcaísmo que causa escândalo ao povo da 'Aliança'? Ou nenhum homem, perante o Deus ciumento, chega a ser plenamente um indivíduo, recaindo sobre a sua cabeça o próprio facto de fazer parte de um povo de 'cerviz dura', sempre demasiado pronto a seguir os 'falsos deuses' e a adorar o 'bezerro de oiro'?

De um certo ponto de vista, Job somos todos nós. Culpados, talvez, perante a lei, como é necessário em sociedade, mas inocentes aos olhos do 'Omnisciente', do 'Omnipotente'. Todas as faltas parecem, assim, mais armadilhas divinas do que outra coisa. A Misericórdia divina, se há justiça, é-nos 'devida' na proporção da nossa infelicidade.

Não há homens voluntariamente maus, dizia Sócrates, o primeiro justo 'civil'.

 

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